9/11/2007

10 perguntas ao Todo-Poderoso

Para júbilo dos nossos leitores, apresentamos a entrevista com a personalidade mais importante da história da Humanidade, do Mundo, do Universo… escolham. Ou melhor, uma entrevista com A Personalidade, o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim de todas as coisas, etc. Como imaginarão, esta entrevista causa, obviamente, algum embaraço, até porque não há protocolo quanto às fórmulas de tratamento, daí termos optado pela majestática segunda pessoa do plural (Vós para os mais distraídos) e por um, mais simpático e carinhoso Todo-Poderoso e, por outro lado, ninguém imagina como é difícil arranjar óculos de soldador num lapso de tempo muito curto. Mas pôrra, se a filha do Raul Solnado disse que conseguiu, porque não haveria o Moyle de conseguir. Foi com esse espírito que demos início ao nosso diálogo.

Todo-Poderoso [TP]: - Não têm de quê, até porque é muito agradável conviver com pessoas. Bem, agradável talvez não seja a expressão mais correcta, devido ao cheiro a suor que emanam ou, pior, tentam disfarçar com perfumes, desodorizantes, creolina e outras porcarias do género. Sim, podem e não se preocupem que já estou mais que habituado.

Alto, Forte e Moyle [AFM]: - Ahhhh… Pedimos desculpa por estarmos boquiabertos e ligeiramente catatónicos, mas tínhamo-nos esquecido que sabeis tudo e estais em todo o lado ao mesmo tempo. Íamos agradecer a Vossa excelsa presença entre nós, pelo que nos sentimos extremamente honrados, extáticos até, com semelhante privilégio. Trata-se verdadeiramente de uma epifania. Podemos tratar-Vos por Todo-Poderoso?

TP: - Eu sei, eu sei. Não pensem mais nisso, embora saiba perfeitamente que o farão. É também um mau hábito da minha parte, do género vulgar display of power, mas ao qual não resisto. A maior parte das vezes em que não estou ocupado com coisas importantes vejo as novelas do Tozé Brito e programas dos anos 80 na Rtp Memória e, depois de seis dias muito intensos, descanso.

AFM: - Pois, íamos exactamente perguntar como costumais ocupar o Vossos tempos livres, que certamente serão imensos. Lamentamos mas isto requer uma certa habituação.

TP: - Não peçam, eu compreendo. Acho que talvez seja um pouco lento. Só para acender a luz demoro um dia inteiro e, se quiser tomar banho, só no dia seguinte a acender a luz é que ponho água a correr. Para vos dar um exemplo de como o meu quotidiano é rotineiro, se quiser comer um bom peixinho apenas quatro dias depois de acender a luz é que tenho o peixe e se for um bom veado com castanhas são cinco dias, desde o acender a luz. Como vêm não é propriamente fácil, mas eu sou uma pessoa de rotinas.

AFM: - Exacto, era isso mesmo que queríamos saber, isto é, se nos poderia descrever um pouco a Vossa Excelsa rotina. E pedir novamente perdão por formular as questões depois de respondidas, mas é uma forma de não deixar os nossos leitores à toa.

TP: - É um país curiosíssimo. Os portugueses são interessantes mas assim a atirar para o enfadonho. Não Me guardam respeito nenhum, mas reverenciam esses figurões vestidos de vermelho e preto que dizem trabalhar para mim. Isto de ser Todo-Poderoso também tem o seu lado chato, há sempre um montão de pessoal a querer colar-se. E outra coisa interessante, mas de uma maneira deprimente, acerca dos portugueses, é que passam os dias a avisarem-se mutuamente de que Eu não durmo. Pudera, à quantidade de vezes que chamam por mim.

AFM: - Muito interessante. Ah, como é óbvio íamos perguntar o que achava de Portugal e, sobretudo, dos portugueses.

TP: - Não tenho propriamente uma opinião formada, mas tenho alguns candidatos de que não gosto minimamente. Aquele caixa d’óculos de bigodinho, por exemplo, é detestável. Não tinha nada que vir dizer que o Espírito Santo, caso não saibam é o meu papagaio e não um pombo, sujava as cadeiras lá no céu. E que tem ele contra as minhas barbas? O António Variações também tinha barba e fizeram-lhe um projecto de homenagem. Eu gosto de hippies, que quer ele? Acho alguma piada àquele da peruca com os caracolitos brancos. Só de me lembrar que enfiou os jesuítas todos num barco e os mandou para Roma parto o caco a rir. E o melhor é que eu sabia antes dele o fazer, o que ainda tem mais piada [ri convulsivamente].

AFM: - O que achou Vossa Potestade do programa da RTP «Grandes Portugueses»?

TP: - Existe verdadeiramente e é um porreiraço. Se não fosse ele quem é que Me fazia companhia? A Minha esposa, que vocês até já entrevistaram [Ver CONVERSAS COM DEUS - 10 Perguntas a Nossa Senhora de Fátima de 26/7/2006] corre todasas festas da socialite. O Meu papagaio diverte-se a brincar com fósforos e a baralhar as línguas das pessoas até elas não se entenderem e desatarem à bofetada. Sei tudo e posso fazer quase tudo, portanto que Me resta? Só aquele folião de vermelho é que vai aparecendo para jogar às cartas. Houve uma altura em que a coisa andou um bocado de candeias às avessas, ele começou a querer arrebitar o nariz e Eu tive que o pôr fora de Minha casa para ele "abrir a pestana". Foi precisamente na altura em que caiu em desgraça. Claro que explico. Caiu nas escadas de minha casa e partiu um “corno” como se costuma dizer. Tudo isto porque as freiras, car*** as f***, andam lá sempre de joelhos e poliram tanto o chão que aquilo ficou a parecer a pista de gelo que montaram em Lisboa no Natal, e que ficava lá tão bem como o bairro de Alfama ficaria em Nova Iorque. Foi uma desgraça a dobrar. Primeiro, magoou-se, e todos os SAP daquela zona já tinham sido encerrados, depois, por causa daquele incidente, fixou-se a ideia de que o Luís tinha chifres.

AFM: - Para quem está completamente de fora, passamos a explicar. Primeiro íamos perguntar se Satanás existia e, em segundo lugar, se a «queda em desgraça» da mitologia cristã era real e como tinha sucedido.

TP: - Sim, é Luís Ferro Santana. Os lafarúzios dos monges é que, não sabendo escrever, lhe arranjaram um monte de nomes esquisitos. Até de Belzebu se lembraram, só por ele um dia ter dito “benze-o tu” acerca de um carpinteirozeco ali no Médio Oriente. As pessoas apanham assim as palavras pelo ar e nem sequer se esforçam por contextualizá-las. Esses monges sempre foram uma cambada de oportunistas. A história do anjo caído é a mesma coisa. Como já sabem, o Luís caiu e por eu dizer frequentemente que ele era um anjo de pessoa, bem, o resto é conhecido de todos.

AFM: - Exactamente, achámos interessante tê-lo tratado por Luís e estávamos curiosos por saber qual o seu verdadeiro nome.

TP: - Percebo que não seja fácil, mas tentem compreender que isto de ser Deus é muito entediante. Já inventei o livre arbítrio para me divertir um bocado, mas rapidamente as gargalhadas perderam fulgor. Inventei a metafísica e se, de início, era engraçado ver toda a gente à procura do gato preto numa sala escura sem ele lá estar, há muito perdeu o gozo. Vou suportando o tédio sendo o mais humano que consigo. Às vezes ainda apareço aqui e além e correm logo todos atrás de Mim. Isso é que ainda vai tendo piada.

AFM: - Estava-nos, realmente, a ficar na retina que o Vosso comportamento era, talvez, demasiado humano para o que esperávamos, mas agora tudo faz mais sentido.

TP: -Pois, Eu sabia que iam perguntar isso. Sim, é verdade, eu não consigo fazer tudo. O meu maior desgosto é não poder ter filhos. Ainda por cima ter-me-ia dado um jeitão enorme para Eu lhe passar a responsabilidade, agora que ando aborrecido, para Ele continuar o negócio de família. Imagino que tenha sido por não ter tido pais, isto é, ter surgido por geração espontânea da minha própria vontade que agora não consigo repetir o processo. A Fátima ainda me tentou ajudar, mas como também tinha pouco tempo…

AFM: -Não pudemos deixar de reparar que Vós haveis mencionado antes que podíeis fazer quase tudo. O que é que não podeis fazer?

TP: -Bom, o prazer foi todo meu. Devo confessar que foi muito agradável, até por desfastio, falar convosco. Sei que não levaram a mal o monólogo, mas isto de saber tudo é um hábito difícil de perder e que se pode tornar chato para os outros.

AFM: -Queremos agradecer a presença e a disponibilidade manifestada e, já agora (porque não?), agradecer também as nossas existências, por míseras e mesquinhas que possam parecer.

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