3/04/2013

Ovelhas. Leopardos. Chacais.



Por um lado.
Falta a Passos Coelho a clarividência dorida e digna de D. Fabrizio de Salinas, quando este sente na carne o desespero do anacronismo feito homem e a voragem de um tempo que lhe exige que morra mas o não mata. Sobra-lhe, no entanto, o cinismo de Tancredi, elevado embora ao expoente da arrogância e subtraído da capacidade de ler os sinais do tempo, de uma certa inteligência prática, portanto. Daquele observa-se-lhe um certo materialismo venal, depurado embora da coragem das armas. Não lhe falta, do arrivista baronete Sedara, o xico-espertismo, mas um xico-espertismo auto-comprazido, desbastado portanto da insatisfação permanente do labrego edil de Donnafugata, que deseja melhor, antes de desejar mais.
Falta a Portas a beleza, em qualquer dimensão que consideremos a beleza [talvez, se lembrarmos o horrendismo romântico, pudéssemos integrar Portas numa qualquer categoria de beleza. Talvez a beleza de Portas seja aquela surrealista “beleza convulsiva”. O Moyle, pelo menos, está disposto a aceitar metade deste postulado bretoniano, nomeadamente a referente às convulsões que a visão, audição ou assombração de Portas lhe provoca.], de Angelica. O que não falta a Portas, no entanto, é a vontade de dar a mão a quem quer que seja que o leve “ao baile”. Apesar dos ares de pudibunda donzela a que se vai dando, dificilmente se descola daquelas peles gastas pelo fumo da intriga as marcas de usura de uma vida de meretrícia política. Nem beleza nem delicadeza.

Por outro lado.
Não falta a nenhum dos dois esta espécie de frenesim necrófago da fraternidade, para tal mantida num estado de putrefacção vivente.
Não falta a nenhum dos dois esta espécie de júbilo de celebração da decadência dos direitos dos Homens, para tal envolvido num estado de ignorante desprezo.
Não falta a nenhum dos dois esta espécie de sofreguidão de festim em derredor da carniça da liberdade, mantida para tal num estado de comatosa indiferença.

Por fim.
Precisando de Leopardos, oferecemo-nos a esmordaçantes Chacais!

2/08/2013

Cassandrices Presunçosas


É uma tragédia grega este PS, que anda, titubeante e dolorosamente, a expiar a hybris de Socratémnon.
Estava o xifo por enterrar no tenro colo de Segumnestra e já Costorestes se arrependera da facada que ainda não dera. "C***s de sabão"!, terá vociferado o desespero dos deputados socialistas que haviam prometido o seu apoio ao edil da cidade de Ulisses contra Segumnestre, do que os jornais deram candidamente eco.
A tibieza de Costorestes, que, ao recusar enterrar a lâmina no peito de Segumnestra, acabou por fazer das espaldas dos camaradas a bainha do seu aço, inquinou já o seu hipotético futuro à frente das rédeas róseas. Talvez tenha sido assaltado pela consciência de que geme já a dobadoira das Moiras e se insufla a implacável fúria das Erínias.
Estranho caso este em que Costorestes se arrependeu de uma facada que não deu, já se arrependeu de não ter dado uma facada e já se arrependeu do arrependimento pois agora sonha com a facada dada mas sem a dar. Ou seja, tal como o Orestes de Ésquilo, passou-se! 
E, para vos fazer ver que toda esta merdice foi muito bem pensada e que não foi amanhada à pressa para aproveitar uma imagem que se ofereceu quase por acaso, redundaremos em mais um parágrafo de variações sobre um mesmo tom, mas que parece confirmar, quer dizer, só parece confirmar assim assim pois o conceito subjacente a esta fantochada periclita por todos os lados, o brilhantismo desta alegorias.
Clitemnestra matou Agamémnon, como toda a gente já leu na Maria, ou no Público, ou em que tais fossas de boatos. A nossa Segumnestra, mais que provocou, confirmou a morte política de Socratémnon. Anda, agora, Costorestes mortinho para vingar a  morte de Socratémnon e liderar a ala socratémnonista de volta ao trono rosa. Tal como em Ésquilo, as Erínias Jorge Alectão, Silva Tisífereira e Santos Megerilva, perseguem Costorestes mas, neste caso, berram-lhe aos ouvidos por não ter esfaqueado ninguém.
Além disso... já chega desta treta. Fiquemo-nos pela consolação de que não somos mais para estes deuses e semi-deuses que as acerbas pedras da Hélade foram para os outros deuses e semi-deuses, aqueles mesmo a sério.


2/05/2013

Sucessão de Non Sequitur Alegóricos


Prosseguindo a bíblica praga de "tonis" que tem afligido o Egipto socialista, vemos que, apesar de tudo o que se lê, talvez até nem seja o totó do Toni a sentir-se pouco Seguro com o Toni a rondar na Costa. 
O Toni, apesar da aparente largueza de Costa(s), parece hesitar em assumir o cajado de patriarca, não estando muito Seguro no papel de Moisés socialista. 
Que se passa? Ninguém sabe verdadeiramente, embora os profetas da comunicação social apresentem diversas revelações. Talvez falte diálogo, como no tempo do outro Toni, que parece está refugiado.
Seja como for, na actual travessia do deserto, ambos os tonis se revelam pouco promissores na condução socialista à Terra da Promissão governativa.
Em terra de tonis, o Zé foi rei e, com estes meros aprendizes de feiticeiro, Portugal não passa de um menino na mãos das bruxas



2/03/2013

Quo usque tandem abutere, Cuniculus, patientia nostra?



De início o crescimento da economia aconteceria logo na segunda metade de 2012.  A seguir, quando o "de início" não se concretizou, o crescimento da economia passou a estar marcado para a primeira metade de 2013. Entretanto, perante a impossibilidade manifesta de o "a seguir" se tornar real, o crescimento da economia, agora sim, sucederia inevitavelmente na segunda metade de 2013. Na realidade, não é a economia que vemos crescer. 
De anúncio em anúncio, o que tem vindo a crescer inexoravelmente é a "água suja" na retrete em que esta terreola se transformou!

1/07/2013

Velho Novo Ano!


«Que 2013 não seja pior que 2012!», é a locução com que normalmente se proferem votos de saudação ao novo ano cá na terrinha. Não assombra, de resto! 

Naturalmente, isto só faz sentido num país onde a resignação bovina foi elevada aos píncaros e é celebrada como marca distintiva da psique colectiva portuguesa. Além disso, esta racionalização só colhe numa sociedade cuja cerviz, pisada secularmente pelo messianismo marrano e pelo purgatório purpúreo, esqueceu a aspiração à verticalidade.

Bom, a saudade que se canta por dá cá aquela palha deve ser saudades de andar de cabeça erguida, sem uma canga: religiosa, política, fiscal, ou outra!

Mas bem, sendo a metafísica «uma consequência de estar mal disposto», se calhar o Moyle comeu e bebeu demasiado na quadra saturnalina e está, apenas, a sofrer as consequências de indigestão. Para o ano que começa, este novo velho ano, tenhamos orgulho em exibir o jugo. É patriótico!

11/28/2012

Hello Africa, tell me how you're doin'!


Um dos processos mais interessantes dos nossos tempos, já que falamos nisso é também um dos mais deprimentes, consiste na inapelável africanização do nosso país. Não pensem, contudo, que este é mais uma daqueles delírios hiperbólicos que, invariavelmente, afectam os auto-observadores, ou seja, os comuns cidadãos, de Portugal, com notáveis consequências para a qualidade dessa mesma observação. Embora, enfim, se perceba a sucessão de ocorrências deste tipo. 

Quem sofre na pele as misérias quotidianas, tende, por algum motivo encoberto que se nos elude, a conferir-lhes valor e a centrar-se no próprio sofrimento mais que na necessidade de ser racional e ojectivo na análise dos fenómenos que provocam essas misérias e sofrimentos. Não devia ser assim? Talvez não, mas compreende-se que seja. Afinal de contas, para o pior e para o menos mau, somos humanos e, no degrau imediatamente a seguir, descendente, note-se, somos portugueses.

Ora, não se trata de mera hiperbolização de pendor diabolizante das elites, governativas  e outras, quando o Moyle chama a atenção para a africanização do nosso país. É mais simples do que isso. É tão simples que o Moyle vos vai oferecer o próximo parágrafo, uma pérola hipozeugmática perfeitamente desnecessária, em que desmonta a putativa complexidade dos termos envolvidos.

A tendência para uma democracia mais nominal que fáctica, a concomitância entre a sobrevalorização dos canais fáticos e o ocamento das mensagens políticas, a hipertrofia dos signos e o nihilismo de significantes dos períodos eleitorais, a mentira como unidade monetária do comércio político entre governantes e governados, o desmantelamento plutocrático da res publica e sua distribuição oligárquica, a cristalização nepotista das aristocracias partidárias, não ditaram a afirmação de estar o nosso país em processo de africanização.

Vemos que Portugal está a caminho da africanização, não tanto pela prevalência, ao longo da maior parte do ano, de valores UV elevadíssimos que nos estejam possivelmente a transformar em tostas e, portanto, a aumentar a melanina nas nossas dermes como acontece na margem sul, do Mediterrâneo, mas pela existência de semelhanças culturais assombrosas entre as elites governativas. Para isto ser uma coisa séria, mais que uma langonhice de letras com um conceito subjacente extremamente mal amanhado como de costume, passemos aos exemplos. Os factos são nosso amigos, nestes casos, e se, porventura, os factos infirmarem a teoria... bem, tanto pior para os factos. 

Dêem um saltinho ao Público e vejam esta notícia. Reconhecem a imagem? Sim, é mais ou menos aquela ali de cima. Ora, tantas linhas para quê? Parece um pouco surpreendente que o presidente do ANC, da África do Sul, Jacob Zuma, tenha sacrificado 12 vacas para se manter no Poder. Não parece nem humano nem, mais que isso, lógico. Talvez tenham feito grande churrascada em seguimento. Faria sentido convencer as pessoas pela pança e não os deuses pelo ritual. De certa forma, a estupidez da duodecatombe africana sairia mitigada.

De qualquer modo, o Sr. Zuma matou os bichos num ritual religioso. Como é natural, ninguém de bom senso acredita que este comportamento dê algum tipo de resultado pois estes sacrifícios são motivado por superstição e não por dados, factos, conhecimento, sabedoria. O mesmo acontece em Portugal neste momento e daí a tal questão da africanização! Zuma sacrificou doze vacas, Portas, Passos e Gaspar sacrificam 12 milhões de cidadãos em nome da sua permanência no Poder, logicamente, e em nome de uma superstição em que ninguém mais, notadamente ninguém de bom-senso, acredita: cumprir o memorando!

Se, porventura, acharem um pouco abusiva e ofensiva mesmo a comparação entre a morte dos pobres bovinos em África e a situação dos cidadãos portugueses por cá, peço-lhes que considerem estes particulares: Se o dono vergasta um bovino, que faz o bovino? Nada! Se o governo vergasta portugueses, que fazem os portugueses?
Quando o dono explora o trabalho do bovino para si e os seus, o bovino reclama? Não! Quando o governo explora o trabalho de portugueses, para si e os seus, os portugueses reclamam?
Sendo os bois alimentados e mantidos pelos donos, quem é verdadeiramente bovino nesta história?

11/20/2012

Walking on Sunshine


Não é costume, mas desta vez há um refrão que o Moyle fará seu:

na lapela uma agulha adornada c'um brilhante
na orelha uma argola de pirata petulante
o andar afectado de quem anda nas alturas
espreitando do bolso um folheto com torturas
ou então um volume de cozinha libertária
que ninguém percebia ao fazer a culinária

todo o dia a jogar a um jogo de charadas
entre copos de absinto e mistelas inaladas
recitamos poemas em delírio fonético
inventamos dadá em registo frenético
e depois já cansados vamos todos para a cama
numa orgia colectiva que não vinha no programa

é preciso é estilo! não cansamos de dizer
num verniz de desdém que nos dá muito prazer
assumindo o deboche cada vez mais descarado
insurrectos em graça adorando o acto ousado
somos fãs da desbunda do deleite permanente
e assim passa o tempo e com ele nova gente

é preciso é estilo em delírio fonético
é preciso é estilo adorando o acto ousado
é preciso é estilo de pirata petulante
é preciso é estilo vamos todos para a cama
é preciso é estilo em deleite permanente
é preciso é estilo de quem anda nas alturas

(no Youtube)




11/18/2012

Futanari yume


O "Tozé" pode vir criticar o que quiser.
O "Tozé" pode clamar que nunca esteve no poleiro.
O "Tozé" pode vir criticar e clamar pessoalmente ou encomendá-lo, como faz: a credibilidade é a mesma.

O "Tozé" é igual ao Coelho e ao Portas.
O "Tozé" é igual ao Sócrates, que é igual ao Coelho que é igual ao Portas.
O "Tozé" é igual ao Coelho e ao Portas porque não é diferente do Coelho e do Portas.

O "Tozé" não faz oposição.
O "Tozé" não deseja eleições.
O "Tozé" não espera senão que lhe caia S. Bento no regaço.

O "Tozé" será tão inútil primeiro-ministro como o Cavaco presidente.
O "Tozé" será tão inútil primeiro-ministro como são agora os ministros da Educação e da Saúde.
O "Tozé" será tão inútil primeiro-ministro como as eleições que o Coelho e o Portas percam.

O "Tozé" pode vir criticar e clamar pessoalmente ou encomendá-lo, como faz: a credibilidade é a mesma.
O "Tozé" é igual ao Coelho e ao Portas porque não é diferente do Coelho e do Portas.
O "Tozé" não espera senão que lhe caia S. Bento no regaço.
O "Tozé" será tão inútil primeiro-ministro como as eleições que o Coelho e o Portas percam.

11/16/2012

AVE CAESAR MORITURI TE SALUTANT


O Ministro Miguel Macedo disse que a violência usada pela polícia (contra os seus próprios cidadãos) foi justificada. Já não é a primeira vez que este senhor deixa entender que aprecia uma democracia com "músculo".

Talvez o Macedónico ministro devesse deitar um olhinho, só de vez em quando, nada de muito exagerado, quanto mais não seja no tempo que passar no trono de cerâmica - embora seja para duvidar que estas sumidades semi-divinas padeçam de tais escatológicas premências - aos clássicos e aos modernos, à poesia  e ao romance, e à literatura em geral.

Podia ser que, se fizesse uma pausa da administração da internalidade nacional, desse de caras com o conceito de Justiça Poética. Os constantes arranques eméticos que emite em defesa da musculatura na relação do Estado com os seus cidadão, ao mesmo tempo que instrumentaliza as bófias todas (que, parecendo que não, também são pessoas), alcandoram-no a húbricas janelas, das quais arrisca nemésica defenestração.

Quem passa tanto tempo a justificar a violência pública, arrisca-se - ironias do Destino - a ser alvo de violência  privada justificada!

11/14/2012

O Inconveniente de Ter Nascido


Não tem o Moyle nenhum desejo particular de se ver reduzido a um mero troglodita com queda para o insulto e o palavrão. No entanto, vós, fofinhos, terão que convir que a cada passagem de globos oculares por um qualquer jornal, ou a cada exposição de pavilhões auriculares a um qualquer segmento noticioso, as e os merdas lá estão a esbanjar magníficas oportunidades para estarem calados e a meditar no absurdo da existência, quer a particular, quer a geral.

Nos dias que correm, lateja permanentemente nas têmporas um título de livro - nunca pelo Moyle lido - que reza O Inconveniente de Ter Nascido, do insone romeno Cioran. Não contem com elucubrações sobre filosofia, para o que o Moyle não está disponível de momento por se encontrar num paraíso tropical a convalescer de um gravíssimo caso de unhas encravadas. Parece, no entanto, que este livro tem um título perigoso, muito perigoso. É que mesmo as pessoas que meramente se limitem a passar por ele, sem nenhuma intenção de o lerem, podem, de um momento para o outro, reparar no título e pensar: «O Inconveniente de Ter Nascido? Quem?».

Sérgio Monteiro diz que é a altura de tirar medidas para erguer estátua a Passos Coelho. Se vos apetecer, dêem um salto ao Público, para ler a notícia e formarem uma opinião. Apesar de tudo o que cada um dos tristes habitantes desta terrinha [excluindo-se aqui a senhora bem alimentada que orienta a caridadezinha do Banco Alimentar] vê, ouve, sente e sofre todos os dias neste jardim à beira mal plantado, o certo é que, afinal, somos um povo de carneiros que não merecemos os pastores geniais e altruístas que nos conduzem. Fiquem apenas com esta meditação de um verdadeiro filósofo existencialista, o brasileiro Luís Filipe Scolari: «E o burro sou eu?».

6/26/2012

Chakall no MEO ucraniano já!!!

O Moyle gostaria de fazer uma sugestão, não só aos seus leitores, mas ao conselho de Administração da PT, nomeadamente a quem produz e aprova os anúncios do “seu canal no MEO”. Por outro lado, pensamos que esta ideia e, ao mesmo tempo, sugestão e ainda imposição, será partilhada por vários dos nossos leitores e ainda dos seus seguidores.
O Moyle está preocupado com o habitat da fauna europeia - e talvez de Portugal, com a adaptação das espécies ao meio onde vivem e com o que pode prejudicar, inclusivamente, a sua sobrevivência enquanto espécies. O que no caos em apreço seria óptimo, mas lento. Assim, gostaria de denunciar a presença de uma espécie que não parece estar no seu habitat, mais propriamente o chacal. Ora, na verdade nada temos contra esta espécie de canídeo, contudo há uma sub-espécie com uma derivação estrangeirística na sua denominação que provoca inquietação, estamos a falar do Chakall. Quanto a esta sub-espécie, há que referir a sua predisposição para a estupidez associada à culinária e à limpeza de material de cozinha. Ora, colocar um chacal na cozinha na Europa podemos considerar que seria o mesmo que adaptar um Dingo a cozinhar canja de miúdos na Austrália, o que, de facto, não seria de todo uma boa ideia.
Lembre-se que, por outro lado, para mestre de culinária já cá temos o nosso Joaquim Barreiros. Não se quer, contudo, passar uma qualquer ideia xenófoba, longe disso, muito menos de patriotismo idiota, pois queremos canalizar tudo para a nossa selecção e para o miúdo da composição.
A nossa sugestão é, dadas as semelhanças entre um chacal e um animal a que normalmente chamamos “cão”, transferir esta sub-espécie, Chakall o cozinheiro, de Portugal para a Ucrânia, onde poderia ter também o seu próprio canal, no MEO ou não, tanto faz, na esperança de que a polícia ucraniana cumprisse a sua lei para com os canídeos. Conhecendo a polícia ucraniana, mesmo que nos cobrem 500€ de luvas não se antevêem dificuldades porque, para nos livrar deste bicho, facilmente conseguiríamos 5.000€ com uma vaquinha.




Parece que foi desta que O Forte veio para ficar. Saúda-se que assim seja!


6/01/2012

π e √


Em primeiro lugar, O Forte quer pedir desculpa aos milhares de seguidores do Moyle por tão longa ausência. E não vale a pena estar com rodeios, ou infinitas explicações que resultariam numa só frase: “A vida…”
O primeiro assunto que me traz de regresso é, por necessidade de alertar todos, para um dos maiores embustes da história da humanidade, ou pelo menos, da minha infância: o Perímetro!
Quando na escola a D. Lurdes (por acaso chamava-se Lurdes, mas acho que era um pré-requisito para se ser professora primária, a tal influência francesa no ensino) me ensinou a calcular o perímetro de um quadrado, chamando-lhe cerca de um terreno num problema qualquer, em que o António (e era sempre o António) queria saber quantos metros de rede necessitava para cercar as suas cabrinhas! Tudo para mim fazia sentido: a soma de todos os lados parecia-me, neste jovem cérebro, lógica!
Porém, quando chegámos ao perímetro do poço do António, onde tirava água para matar a sede às suas cabrinhas (reparem na perniciosidade da D.ª Lurdes), o perímetro deixou de fazer sentido! E porquê?
Bem, a fórmula é esta: o perímetro de um círculo é igual ao diâmetro vezes o PI! Mas porque carga de água é que isto é o perímetro? O que me pareceu sempre é que, quer a D.ª Lurdes quer quem inventou a fórmula, e sublinhe-se a palavra “inventou”, chegaram à seguinte conclusão:
- Bem, não consigo somar os lados e não faço a mínima ideia de como se calcula o perímetro de um círculo, então vou inventar…
E o que há de melhor para uma invenção matemática do que o PI!!! O 3,14 parece, ou melhor, é um “tapa-buracos” na matemática e para disfarçar disseram que era infinito… Reparem no embuste: se é infinito, como sabem que é infinito?
Na matemática há uma lacuna, mete-se o PI e está resolvido! Aliás, soa-me que os nossos governantes ainda não descobriram o embuste, porque já teriam começado a resolver a crise com o PI! Então o Sócrates, simplificava-o e criaria uma fórmula (se tivesse andado na escola durante a semana) que resolveria, pelo menos, a Crise Mundial! As próprias Câmaras Municipais, já pensam em utilizá-lo para remendar as estradas, devido aos cortes orçamentais!
Há ainda outro tapa-buracos muito jeitoso na matemática a que se chama “raiz quadrada”, utilizada na mesma proporcionalidade do PI, só que não serve para tapar buracos nas estradas, porque simplesmente não soaria bem tapar um buraco com uma “raiz quadrada”!

P.S. Dou o meu lugar na fila da charcutaria de uma grande superfície que tem prejuízos avultados com as suas promoções para ajudar os portugueses, a quem nunca teve uma D. Lurdes como professora na escola primária! E mais, sou capaz de dar o meu lugar na fila a quem os problemas do perímetro nunca tiveram um António!

5/25/2012

Scener ur ett äktenskap

O dia 25 de Abril é um daqueles dias que só acontecem uma vez por ano. Quer isto dizer que não há possibilidade de confusão com o dia 29 de Fevereiro. É que isto de haver a possibilidade de não se confundir um dia com outro, nunca será demais repeti-lo, é precioso, porque todos sabemos quantos grandes conflitos mundiais se ficaram a dever a mal-entendidos com dias do ano.
Agora que esbaforiu este desabafo que lhe oprimia violentamente o tórax, passemos ao dia 25 de Abril, data inolvidável do glorioso matrimónio que explodiu as grossas e ferrugentas cadeias que nos amesquinhavam.
Esse casamento, no entanto, caiu na rotina e na falta de diálogo há já algum tempo. É senso comum que a rotina é a ascorosa lepra que apodrece inapelavelmente o tecido conjugal, levando à muito nojenta queda de langonhentos bocados matrimoniais nos momentos mais inoportunos. De igual modo, a falta de diálogo é a repelente peste que faz entumescer purulentos negros bubões nos refegos da relação afectiva, levando a que cada troca de palavras se transforme num lancetamento que faz correr pútrida e fétida matéria.
Procurando ajuda especializada, o casal enlaçado a 25 de Abril de ’74 encontrou-a na figura do maior especialista vivo em psicodinâmica de casais, o quadrilheiro de primeira apanha Doutor Moyúlio Moylachado Moylaz.
Veremos, imediatamente a seguir a mais este parágrafo desnecessário, a transcrição das sessões a que ambos, à vez, se submeteram. Como nota final, as transcrições das gravações são o mais fiéis possível e usando-se nomes fictícios e visivelmente absurdos para garantia deontológica de confidencialidade.
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Sessão com Sr.ª D.ª “Maria de Mocracia” (nome fictício)

Doutor Moyúlio Moylachado Moylaz (DMMM) – O que me pode dizer sobre o seu casamento com o Sr. José?

Sr.ª D.ª “Maria de Mocracia” (DC)Eu sei lá, xodotôr. Olhe, parece-me a mim que já não é a mesma coisa, está-me a perceber?

DMMM – Mas em que é que o seu casamento já não é a mesma coisa? O que é que acha que mudou?

MdM – Ai, eu! Eu sei lá xodotôr... As coisas mudam com os anos, n’é? Eu nem sei que lhe diga. Sabe, o meu Zé já não é o mesmo de quando a gente era novos.

DMMM – Importa-se de me explicar melhor essa ideia!

MdM –Quando a gente se conhecemos, ele era todo charmoso. Sempre de roda de mim. Dizia que não podia viver sem mim. Que a vida dele não fazia sentido, que precisava de mim e queria casar-se comigo. Fazia-me muitas juras de amor e escrevia-me poemas e cantigas. Era assim muito amoroso e apaixonado. Eu sentia-me a moça mais linda do mundo, quando ele me dizia estas coisas, não é? Veja lá o xodotôr que ele meteu-se bastas vezes em trabalhos com a Guarda, por minha causa. O meu Zé era assim muito levantado das ideias. Bom moço, mas muito levantado! Ora veja lá: já se sabe que não se pode andar por aí pelas ruas a fazer barulho, não é? E o meu Zé estava sempre a dizer que vinha para a rua gritar que me queria muito, e outras coisas assim, para toda a gente saber. E eu dizia-lhe – «Oh Zé, tu vê lá no que é que te metes. Olha que a Guarda não gosta de barulho na rua, que as pessoas gostam de dormir descansadas e em sossego!». E olhe que às vezes eu não o conseguia amansar e depois ele ia mesmo rua fora. Depois a Guarda não achava bem que ele andasse a incomodar as pessoas com a chinfrineira que ele fazia, não é?, e vai daí pumba, afinfavam-lhe umas galhetas no lombo. Ai xodotôr, isso é que eu me arreliava. Ele trazia-me em cuidados que eu nem dormia. Mas depois, ao mesmo tempo eu até gostava, porque eu sabia que ele era assim doido porque era por minha causa e eu ficava toda babadinha com ele. E quando ele falava comigo era todo meiguinho e cheio de doçuras e carinhos... Oh eu sei lá, xodotôr, eu sabia que ele gostava muito de mim e que era assim porque era doidinho comigo!

DMMM – Mas o Zé já não é assim meigo consigo? Acha que ele não gosta de si?

MdM – Não, eu sei que ele ainda gosta de mim. Às vezes eu espreito-o a ver fotografias e os filmes do dia do nosso casamento e derivado daquele brilhozinho que ele tem nos olhos nessas alturas eu tenho a certeza de que ele ainda gosta de mim. E depois a gente já não vai para novos. Quer dizer, ainda não somos velhos, está bem de ver, mas pronto, já se sabe que quando se é novo as coisas são diferentes, não é? Mas às vezes lembra-me de quando era nova e das juras que ele me fazia e daquelas palavrinhas melosas que ele me dizia ao ouvido. Vamos lá ver, o meu Zé não me trata mal. Não é como este e aquele que são maus e batem nas mulheres sem razão. O meu Zé não! O meu Zé nisso é um homem em termos. A coisa é mais quando me lembra da mocidade. Sinto falta das meiguices e daquelas doidices que ele me dizia e fazia, não é? Pronto e agora ele já não é assim como ele era.

DMMM – Compreendo... E costumam conversar um com o outro?

MdM –Quer-se dizer, a gente fala, mas é mais nas coisas que são precisas para a casa e nisto e naquilo. Dantes a gente passava horas perdidas a falar. Ele contava-me, todo contente, os planos que tinha para a gente e assim. Depois de casarmos fomos falando cada vez menos sobre essas coisas. Logo a seguir ao casamento não, mas mais nos últimos tempos, ele liga-me cada vez menos. A gente fala mais daquelas coisas de todos os dias, da casa, dos vizinhos e coisas dessas. Mas dantes não. Ai, xodotôr, eu gostava muito de o ouvir falar porque ele dizia coisas muito bonitas. Ele tinha sempre muitas ideias e coisas que queria fazer e estava sempre a dizer que desde que estivesse comigo ia mudar o mundo e confessava-me essas coisas todas e as aflições e os sonhos que ele tinha. Mas agora já não. Agora passamos muito tempo sem dizer nada. É como se não tivéssemos nada para dizer um ao outro. E depois todos os dias é igual, a gente fala do tempo, das coisas da casa, dos vizinhos e disto e daquilo mas não conversa como dantes.

DMMM – E na intimidade? Essa mudança depois do casamento notou-se muito?

MdM – Ai xodotôr, nessas coisas também mudou. Ele sempre foi muito meiguinho, mas estava sempre a arder para aquilo. A toda a hora não me largava e estávamos sempre naquilo que até parecia que tinha o diabo no corpo, o raio do homem. Não ache o xodotôr que eu estou-me a queixar, mas às vezes até era demais. Ele não me deixava resolver os meus afazeres e a minha lida. Mas agora... mas agora ele já não me procura. Quando a coisa se dá, às vezes, sabe?, de longe a longe - assim no dia do nosso casamento, é costume - ele também não é assim fogoso como era dantes. Quando nos encontramos, ele parece-me que quer despachar aquilo, sabe xodotôr? Porque até parece que está preocupado e enfarinhado com outras coisas que o ocupam e tem pressa e está a perder tempo. É o que me parece. E eu gostava da meiguice dele antes, porque agora é assim parece que a despachar.

DMMM – Tem estado a contar-me que sente que o seu casamento está a passar por uma fase de menor fulgor, de menor emoção. Isto é, ao comparar o passado, em que se conheceram, eram jovens, em que se uniram, a “Sr.ª D.ª Maria de Mocracia” revela que o presente não está à altura desse passado e que tem saudades das emoções e do arrebatamento desses primeiros tempos. Tem, ao mesmo, revelado que notou uma grande transformação no seu marido e que essa transformação tem levado o vosso casamento a uma rotina que não a satisfaz. É isso?

MdM – Não xodotôr, quer dizer sim. É isso. Eu queria que ele sentisse falta de mim, como era dantes. Quando estava sem me ver assim algum tempo, corria por mim e parecia que morria porque não me tinha. Eu sabia que lhe fazia muita falta e ele dizia que eu era coisa que ele mais precisava no mundo. E que sem mim não era uma pessoa, era infeliz e miserável e que não... Ai, como é que ele dizia? Era tão bonito... era... ai como era? Ah, que estava incompleto sem mim! Que nem todo o ouro do mundo pagava ter-me. Eu preciso de ser assim estimada e um bocadinho mimada de vez em quando. Desde que me tem o meu Zé já não me mostra que precisa de mim, já não me dá o mesmo valor. E se ele fica sem mim, o que é que vai ser dele? Sem mim ele não consegue fazer nada. E eu queria que o meu Zé me desse mais valor, me acarinhasse mais, me protegesse. Queria que ele festejasse o nosso aniversário de casamento a sério, com gosto e alegria. O que eu queria era que o meu Zé me estimasse. Eu não quero que o meu Zé me dê prendas, eu quero que mê valor. Eu não sei o que vai ser de mim de hoje a amanhã. E se me dá alguma coisinha má? Como é que é? E se me acontecesse algum acidente e eu desapareço? Eu só queria que o meu Zé tomasse mais bem conta de mim. Era só isso.

DMMM – Muito bem. Acho que podemos dar esta sessão por terminada. Agradeço imenso por ter partilhado o que lhe ia na alma, com sinceridade. Eu agora vou ouvir o Sr. José Pó Vinho e depois encontramo-nos todos aqui para eu vos dar a minha opinião*.

MdM – Eu é que agradeço xodotôr. Falar faz bem à alma e tira aquelas coisas que envenenam a alma de uma pessoa. E depois, quando uma pessoa está assim a falar nas coisas, depois até dá fé do que é que lhe está a pesar no peito. E a gente não pode falar de certas coisas com qualquer um, porque senão amanhã já toda a gente sabia na praça da minha vida. E a minha vida não é p’r’andar por aí nas bocas do povo, não é? Com o xodotôr é diferente porque é como se fosse um médico mas destas coisas da alma de uma pessoa, não é? Muito obrigadinha e até logo.
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Sessão com o Sr. José Pó Vinho (nome fictício)

DMMM – Diga-me lá, Sr. José Pó Vinho, como é que acha que vai a sua vida de casado com a Sr.ª D.ª Maria de Mocracia?

Sr. José Pó Vinho – Oh sôtor, quer-se dizer, eu acho que vai normal. Aqui há atrasado ela começou a insistir que tínhamos que ir ver um especialista, que eu não lhe ligava como dantes e que já não era o mesmo com quem ela casou e essas coisas do género. Não sei onde é que ela vai buscar essas coisas. Deve ser às novelas, na certa. Mas para não a ouvir mais eu disse que sim, que vínhamos cá falar c’o sotôr, disse-lhe assim para lhe tirar o sentido. Cuidei que lhe passava a ideia mas ela lá andou à procura e cá estamos, mas nem sei bem o porquê. Eu acho que está tudo dentro do normal. Há aqueles dias melhores e outros piores, mas tudo dentro daquilo que é o normal de toda a gente.

DMMM – Mas pelo que me diz, depreendo que sentiu que a sua esposa estava insatisfeita, ou não?

JPV Ela teve sempre um feitio complicado, é certo. Mas nos últimos tempos tem andado mais resmungona e chata. Em sendo um carro, sotôr, a minha Maria era um daqueles carros que precisam de muita manutenção. Quer dizer, não estou a dizer que ela me gasta o dinheiro, não é isso, que ela é responsável e sabe que custa a vida. Mas ela quer só paninhos quentes e que eu a traga ali nas palminhas a toda a hora. E está sempre com coisas que eu já não lhe faço declarações de amor e que não lhe ligo e que mais não sei quê e que mais não sei quantos e que eu já não lhe escrevo poemas e cantigas e só lhe dou um cravo uma vez por ano e é por obrigação. Eh pá, não me dá um segundo de descanso, sempre com a mesma conversa. Anda chata, agora! Quando a gente namorávamos e depois de casados, nos primeiros anos, ela não era assim. Pôs-se assim!

DMMM – Sente que ela mudou muito desde o namoro e dos primeiros anos de casado?

JPV Ohhh, sei lá bem sotôr. As pessoas vão ficando mais velhas e acomodam-se uma à outra, não é? Mas ela parece que não está de bem com nada. E nada do que eu faço chega e que qualquer dia dou por mim sem ela e depois é que eu vou ver a falta que ela faz e mais isto e mais não sei quantos. Consome-me a paciência! Mas olhe que eu meti-me muitas vezes em trabalhos por causa dela, porque não queriam que a gente namorasse. Mas eu não estava para fitas. Era ela que eu queria e não me deixei levar na cantiga de que ela não servia para mim e que eu não tinha pedalada para ela. E olhe que ainda apanhei algumas à conta de ser teimoso.

DMMM – Fale-me do vosso namoro.

JPV Ninguém queria que a gente se namorasse. Teve que ser às escondidas. Mas quando eu vi aquela cachopa tão bonita – e olhe sotôr que ela era a coisa mais linda que eu já vi. Mas era mesmo, sem estar aqui com arcas encoiradas! Era linda, linda e muito bem feitinha, muito jeitosinha. Eu dei conta que ela também engraçou comigo, porque ela mandava-me beijos, piscava o olho assim à sorrelfa. Depois mandava recadinhos a dizer que se eu quisesse era capaz de me fazer muito feliz e que mudava a minha vida. E um homem começa-se a afoguear. Eu andava sempre com a tenda armada na parte da frente das calças, de tão boa que ela era. Provocava-me a toda a hora. É que, ainda por cima, andavam sempre em cima a controlar o que ela fazia, com quem falava, e eu, como era levado da breca, não me encolhi, fui-me a ela. Quando apanhávamos as nossas famílias distraídas, trocávamos uns beijitos, uns namoriscos, uns amassos valentes tudo à socapa, mas tudo às escondidas. Quer dizer, ela para mim era como se fosse uma princesa que estava fechada num castelo de um tio malvado que lhe tinha roubado o reino e tinha posto uns dragões a guardá-la e tal. Mas eu ia soltá-la e casar com ela. Eu era assim dado a estas coisas e poemas e ideias, quando era novo, e ela encantava-se toda comigo por ser assim. E depois ela prometia que me fazia feliz quando a gente conseguisse fugir – e a gente esteve quase a fugir duas ou três vezes - e que era a mulher para mim e pronto, essas coisas todas de quando se é novo.

DMMM – Acha que foi o casamento que pôs fim a esse entusiasmo da juventude?

JPV Não sei, sotôr. Não sei... A princípio, depois de casados, a gente continuava na mesma como era nos tempos de namoro. Mas depois a coisa vai esmorecendo, não é? É normal. Já não é preciso andar a combinar coisas às escondidas nem a fazer planos para fugirmos os dois. Nem a dar uns beijitos rápidos e uns apalpões à pressa. E ela atazanava-me muito, mostrava um bocadinho daqui, um bocadinho dali, esfregava aqui e além mas depois fugia, só para me atiçar. Havia muito aquela coisa de ter que ser às escondidas e de andarmos a comer o fruto proibido e tal. Mas depois de casar... não sei, já não era preciso andar assim a correr atrás dela, não é? Já a tinha comigo, todos os dias! E eu dou-lhe uma flor quando fazemos anos de casados. Um cravozinho vermelho, escolhido a dedo. O mais bonito que houver no mercado. Mas quer dizer, não pode ser sempre a toda a hora, não é? Também tenho direito a sentar-me um bocado a ver a bola; ou ir à tasca virar uns martelos com a malta, ou não? Eu sou um homem.

DMMM – Disse-me há pouco que a sua esposa lhe diz que qualquer dia se vê sem ela. Acha que o seu casamento pode estar em risco, que pode ficar sem a sua esposa?

JPV Nããããããããaã! Ela diz isso mas é só assim c’os nervos. Nãããã... Essas conversas é para picar, para me meter medo. Qual risco, qual carapuça! Nós casámos para toda a vida. E já agora, ela ia para onde? Ela tem aquele feitio especial mas é deixá-la acalmar um bocado que a coisa passa-lhe.

DMMM – Pelo que me diz, o Sr. José nota que existe alguma tensão e desconforto entre os dois! Conversarem em igualdade e com franqueza, sobre estas questões, não seria uma boa opção no sentido de restabelecer uma concórdia dentro do lar e chegarem a um patamar de entendimento mútuo?

JPV Não! Nós já falamos muito do que é preciso. Agora andar com paleios de telenovela. E eu já sei muito bem o que ela vai dizer: «Achas que eu duro para sempre! Atiras-me para cima as responsabilidades todas da casa! Julgas que uma flor um dia por ano é o suficiente para tapar o que não me ligas nos outros dias todos! Andas sempre na galderice e nas comezainas e agarrado à televisão a ver a bola mas para mim não há tempo!» e «Só vais dar pela minha falta quando já não me tiveres!». Uma pessoa também se cansa de estar sempre a ouvir remoer e repisar no mesmo. Eu também trabalho e muito! Não pode ser sempre a exigir, a exigir, a exigir. Um bocadinho de apoio também caía bem, não é? Já não somos miúdos novos e eu também tenho as minhas obrigações. Não posso deixar tudo só para andar com sua excelência ao colo a toda a hora. É melhor o sotôr não lhe andar a falar de conversarmos, que eu tenho dias que já nem a posso ouvir.

DMMM – Claro, estou a compreender. De qualquer maneira, parece-me que temos já o suficiente para podermos terminar por aqui e depois falarmos em conjunto, já a seguir*. Agradeço a franqueza e a abertura em falar comigo. Apesar de ser um profissional e estar obrigado por um código de ética rigoroso, compreendo perfeitamente que este tipo de assuntos são muito delicados de expôr perante um estranho que, apesar de tudo, eu sou.

JPV Eu é agradeço ao sotôr por andar a aturar esta paranóia da minha Maria. Gabo-lhe a paciência mas acredite que não lhe invejo a sorte. Passar o dia a ouvir estas coisas não há-de ser pêra muito doce, mas sempre tem uma ideia do que eu passo.









*A avaliação do Dr. MMM encontra-se muito sumariamente esquematizada em dois pontos essenciais na introdução, não se indo mais longe por questões deontológicas e de privacidade que os leitores naturalmente compreendem.

5/21/2012

Em Nome do Medo


O Moyle não é o único, nem de longe nem de perto, e a sensação de ter um espectro que assombra avoluma-se. Um espectro à espreita entre as sombras... Cada vez menos à espreita e cada vez menos entre as sombras.








Um estado de espírito que não dá para muito mais que isto!

5/19/2012

Relvas e os Jornalistas


Uma das coisas que mais distinguia este governo do anterior - e é bem difícil jogar a este "descubra diferenças" - era a até agora pouco manifesta azia para com a comunicação social. 
A tentação de quem manda interferir nos jornais, rádios e televisões, acabou por ser mais forte e, para dar a cara, quem haveria de aparecer senão o repasto de Coelhos, o ministro Relvas.
De cada vez que se querem desmarcar pelo discurso das legislaturas Sócrates, mais se aproximam pelas acções. O mais grave é que todos os que votaram para correr com o Governo anterior, têm que gramar com o mesmo Governo, mas com caras e nomes diferentes.
Mais um episódio de mudança de moscas.