Toda a gente
fala de economia, desemprego, emigração, zonas de conforto, Troika,
austeridade, impostos, vida acima das possibilidades, renegociações, prazos,
dívida, greve, sindicatos, orçamento, inflação, finança, PIB, bancos, subsídio
de férias, salário mínimo, médio e máximo, aldrabices políticas, etc..
Antes deste
governo, toda a gente falava de economia, desemprego, emigração, zonas de
conforto, Troika, austeridade, impostos, vida acima das possibilidades,
renegociações, prazos, dívida, greve, sindicatos, orçamento, inflação, finança,
PIB, bancos, subsídio de férias, salário mínimo, médio e máximo, aldrabices
políticas, etc..
Curiosamente,
ninguém reclama do desmantelamento meticuloso e aparentemente inapelável de um
serviço de saúde igualitário e acessível a todos os portugueses, mesmo que
ganhem os relativamente
abonados salários mínimos.
Ninguém parece
muito preocupado com o corte
de verbas para financiamento do Ensino Superior ao mesmo que aumenta imenso
o financiamento das instituições privadas de ensino e se afirma, impudicamente,
que só cresceremos economicamente através de mais-valias económicas resultantes
do aumento da competitividade de base tecnológica das nossas empresas.
Alguém reparou
que, do acordado com a troika, a Educação e a Saúde viram os cortes do
financiamento públicos aumentados algumas 10 vezes? Terão reparado no facto
seguinte: se, para cumprir os acordos assumidos internacionalmente, o governo
português cortou 10 vezes mais na Educação e na Saúde, onde diabos terá deixado
de cortar? Se repararam ninguém pareceu preocupar-se por aí além.
De igual modo,
quando foi eliminado o ministério da cultura, alguém notou? Não. Queixaram-se
meia dúzia de mamões que se dizem artistas e intelectuais e vivem impunemente à
custa de subsídios pagos por todos através do erário público, mas esses nem
contam.
Teatro? Há que
deixar à iniciativa privada e à criatividade financiada pela publicidade.
Note-se o brilhante trabalho de desenvolvimento das artes dramáticas em
Portugal levado a cabo pela TVI e pela SIC. C’um raio, se até ganham prémios
internacionais. Deixemos o teatro
para os espectáculos de fim de trimestre nas escolas, um pouco por todo o país.
De qualquer modo, as escolas têm que servir para alguma coisa.
Pouca gente notou,
então, quando foi anunciada a eliminação do ministério da cultura. Os que
notaram – excluindo aqui os referidos mamões que se auto-intitulam artistas – acalmaram-se
pois haveria uma secretaria de estado da cultura [mais ou menos a mesma coisa]
à frente da qual estaria uma personalidade insuspeita em termos culturais. Do
mal, o menos, pensaram.
Há coisas que,
no entanto, são curiosas. Se Francisco José Viegas foi genericamente aceite, ou
não muito atacado, vá, como insuspeita personalidade de cultura… ou melhor, se
Francisco José Viegas é uma personalidade da cultura, como raio se pôs a jeito
para fazer parte de uma fantochada de cultura em Portugal?
Talvez fosse o
momento de se assumir que, não sendo uma ditadura totalitária, o estado
português não tem nada que intervir na produção cultural do país. Mas se assim
é, para que raio se mantém um espectro de incentivo estatal à produção
cultural? E se Francisco José Viegas era aceite como sendo uma pessoa de
cultura e da cultura, porque carga de água se pôs a jeito para servir [a falta
de] interesses culturais governamentais?
Paradoxos?
Naaaaaaaaaaaa, não engulam essa. Coincidências? Pfffffffffff, muito menos.
Estranho? Siiiiimmmmmmmmmmmmmm, sem margem para dúvida! Mas, enfim, ninguém
parece preocupar-se por aí além. Se calhar quem não se preocupa é que tem
razão. Preocupar-nos para quê? Pensar é estar doente dos olhos, afirmava o
pastor. Vejamos passar a vida e não deixemos que a vida passe por nós. No fim
morremos todos. Para quê enervarmo-nos?
2 comentários:
O papel miserável a que algumas pessoas se prestam, nunca deixa de me espantar. Como é que Francisco José Viegas aceitou um cargo de fantoche, num momento de crise e em que se está mesmo a ver que o governo não tem nenhum interesse na cultura, e depois acaba com as entradas grátis ao Domingo nos museus, não dá verbas suficientes para o Teatro Nacional funcionar e quando Diogo Infante se demite, põe lá um espantalho qualquer, para fingir que aquilo ainda tem pernas para andar?
Só há uma possível interpretação: Viegas bebeu muito sumo de laranja em pequenino e ficou com uma laranjite aguda para toda vida, prestando-se até a ser moço de fretes... :P
Teté,
é precisamente isso que é interessante, deprimente mas interessante. O papel a que algumas pessoas se prestam em nome sabe-se lá de quê. Notoriedade não é, porque notório, e por bons motivos, já ele era.
O Estado tem que deixar de financiar a cultura, ou começar a financiá-la em condições. Não podemos ter este meio termo que flutua consoante as conveniências do momento.
Excesso de sumo de laranja provoca também diarreia. Não será também por aí?
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