Há muitas coisas ligeiras e engraçadas sobre as quais deveria falar. Mas não me apetece.
Vou antes divagar (até porque não há motivos para ter pressa) sobre uma problemática extremamente traumática, cuja temática não apenas a gramática, mas também a matemática, uma postura antidogmática e toda a filosofia da Ática, poderão esclarecer.
Vivemos numa sociedade apática, burocrática na sua organização, dependente de uma cultura cinemática de divinização mediática da mediocridade. A ameaça autocrática está aí, à espreita em cada medida antidemocrática que a acrobática legislativa faz aprovar. Na assembleia, policromática na forma, mas acromática no conteúdo, catedrática e cerimoniática na imagem que transmite, o poder exerce-se de forma errática e, valham- nos todos os deuses, fleumática, sobre uma população asnática, de propensão dogmática e com uma preferência sintomática pela ostentação asiática de uma pseudoelite com uma atitude forçadamente dramática e apenas aparentemente diplomática. O topo desta hierarquia marasmática é ocupado não pelo primeiro cidadão, garantia sistemática da liberdade democrática, mas por uma múmia hierática, conivente com a desconstrução tecnocrática, levada a cabo pela camarilha socrática. A política é, por isso, uma actividade iniciática, encapotadamente aristocrática, que se esforça por criar uma aura simpática e empática, para com a mole, bovina e acromática na sua capacidade de escolha.
Esta é a realidade esquemática do nosso tempo, o zeitgeist para usar uma expressão idiomática, da pátria hanseática. Não é uma mera afirmação melodramática. É uma posição pragmática, que realça a mesquinhez estática que nos rodeia. Aqui no extremo da península eurasiática, desminta-o quem puder, vigora a lei selvática, situação paradigmática de uma gente reumática e neuropática.
Sem qualquer agenda programática nem nenhuma intenção enigmática o Moyle o diz. Apenas em tom de constatação opiniática. Talvez tudo isto que se observa não seja uma coisa negativa afinal, talvez seja meramente uma questão idiossincrática ou, quem sabe, psicossomática. Talvez seja da condição climática. Talvez excesso, talvez falta, de ligação informática. Possivelmente a portugalidade será demasiado beática, embora felizmente não teocrática. Talvez a visão portuguesa do mundo seja naturalmente psicopática. Talvez esta seja uma ideia simpática. Mas o Moyle não vai nisso. A verdade axiomática é que a falta de autoconfiança dos portugueses é automática, daí a sua dependência de qualquer figura vagamente carismática, de teatralidade operática e pronúncia enfática, mesmo que de qualquer treta, desde que pareça magistrática.
No entanto, nada disto interessa para o que nos trouxe aqui hoje. O problema é o conflito de gerações. Esse cancro que corrói o tecido social e a solidariedade pessoal. Já reparam que grande parte dos dantescos conflitos entre gerações poderia ser resolvida se os da geração anterior deixassem de usar a irritante expressão: “Ainda tu não eras nascido e já eu…”?
Mas que raio de conversa é esta? Isso é que é um cometimento homérico ter feito qualquer coisa antes de mim por ter nascido antes! No shit Sherlock! Enfim, o ressentimento que provoca nas gerações mais novas é tão grande que, menos de 10 anos depois de o ouvirem elas, as ouviremos repetir esta linha de raciocínio brilhante.
Qualquer dia vemos a putalhada da 1ª classe (agora é primeiro ano do ensino básico), a dizer para os da creche (agora já deve haver pré-escolas e coisas assim): - Quando tu nasceste já eu comia cereais de chocolate com leite!, e a multidão de comedores de Cerelac espantar-se-á em uníssono: - OHHHHH, de chocolate! Mais ridículo será ouvir um velhote de 90 anos a dizer a um de 80: - Quando tu nasceste, já eu comia broa com azeitonas ao almoço! Sabem lá estes cachopos o que era a vida!
Portanto, vejam lá se se deixam destas merdas porque este flagelo horrível, que nos consome enquanto sociedade, tem que terminar.
9 comentários:
Se bem que isso funciona na perfeição para um sportinguista:
"Ainda não eras nascido quando o scp jogava verdadeiramente à bola"
Claro, a excepção confirma a regra.
É sem dúvida, uma divagação extática e quase nada opiniática sobre esta problemática. Não só por ser uma grande verdade, (escrita de maneira Moylática) como também e principalmente pela fantá(s)tica configuração acrobática em que o mesmo sufixo é colado em tantas palavras; transportando para o leitor uma ideia enfática dessa tão vulgar(de comum)prática.
"Ainda tu não eras nascido, já eu gritava; 'Vivó Benfica!'", eheheh! OK, é brincadeira, embora provavelmente verdade!
Mas em relação a essa temática, irritam-me mais aqueles saudosistas que começam quase todas as frases com "no meu tempo não era nada assim...", para depois acabarem às voltas de um raciocínio quase sempre faccioso e concluírem que no tempo "deles" é que era bom, agora é tudo uma porcaria! Isto mesmo que tenham apenas mais dois ou três anos de idade que o interlocutor... :p
Quero contudo de forma enfática, esclarecer que esta problemática democrática, de uma sociedade apática, burocrática, dogmática e estupidificantemente mediática, dada à vassalagem automática, curvada servilmente perante uma figura um pouco mais carismática, ou frente à cromática emblemática, é-me profundamente antipática! Daí que face à ameaça autocrática e perante a fleumática sistemática, só apetece reagir de forma dramática e algo psicopática, sem qualquer sombra diplomática: alguém tem aí uma moca, para eu voltar à minha caverna ancestral, para treinar a pontaria com a falsamente aristocrática pandilha socrática e a tal múmia conivente com a desconstrução tecnocrática?
(é que desde que a feira popular desapareceu nunca mais fiz tiro ao alvo e estava-me a apetecer tanto...) ;)
13,
vamos lá esclarecer uma coisa, essa afirmação só poderia ser produzida por um lagarto, certo? e continuas a achar que é suficientemente de fiar para a usares como a confirmação de uma regra?
é possível, mas continua a ser intelectualmente um bocado arriscado fazer isso.
ipsis,
verdadeiramente fáctica, essa descrição. gostei da táctica :)
Teté,
se fores benfiquista, é bem provável :)
sobre os tais saudosistas, não sei se te lembras.
foste verdadeiramente insofismática na tua abordagem prática a esta problemática.
[fico contente de vos ter posto a fazer jogos de rimas :D]
Moyle,
mas a geração anterior ppara o qual o lagarto está a "orar" não o sabe. Regra deles, claro!
anonymous,
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no problem.
13,
ou isso. assim já faz mais sentido e não te expões desnecessariamente ao ridículo epistemológico que confiar na opinião lagarta sobre futebol de qualidade :D
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