2/12/2007

10 Perguntas a João Paulo II

O Alto, o Forte e o Moyle (AFM) – Muito obrigado por ter aceite o nosso convite para uma conversa. Sentimo-nos muito honrados agora que, finalmente, a Vossa Santíssima agenda permitiu esta oportunidade.

João Paulo II (JPII) – Eu é que agradeço o vosso venerável convite. Quando soube das vossas legiões de fiéis – leitores – senti imediatamente que queria fazer parte deste fenómeno.

AFM – Dizei-nos, então, é correcto afirmar que Sua Santidade (SS) é um verdadeiro apreciador de Portugal e dos portugueses?

JPII – Bem, pode-se dizer que sim. No Vaticano é que me davam pouca margem de manobra, senão teria passado boa parte do meu tempo no vosso augusto país.

AFM – O que foi que vos atraiu, ao longo da vida e mesmo agora, para esta pequena e periférica nação?

JPII – Razões sentimentais, claro, acima de tudo o resto. De facto, foi em Portugal que encontrei um rumo para toda a minha vida e a inspiração para a minha carreira.

AFM – Referis-vos à Nossa Senhora de Fátima, seus milagres e aparições? Pelo menos é o que somos levados a deduzir.

JPII – Não, nada disso. O que me liga a Portugal é o feitiço que a Irmã Lúcia me lançou. Desde a primeira vez que a vi que fiquei taralhouco. Até Grego comecei a falar e não dava uma para a caixa. Tudo por causa daquela maluca. Era uma tesuda que nem vos digo nada. Eu bem sei que andaram a dizer que andava a rebolar na palha com a madre Teresa de Calcutá. Admito que era bem jeitosa, mas não fazia muito o meu género. Mas o pior eram aqueles emplastros vestidos de vermelho, os…os…

AFM – Cardeais?

JPII – Isso mesmo, cardeais. Obrigado. Esses bichonas impotentes não deslargavam por um segundo. Uns verdadeiros estraga… vocês sabem.

AFM – Perdoai-nos as nossas expressões, mas estamos perfeitamente siderados. Não fazíamos a mais pequena ideia. Imaginamos que a vossa relação fosse difícil…

JPII – Não era nada difícil, por acaso. Ela subia para um genuflexório, eu levanta as minhas vestes e ela as dela e… pontapé para a frente e fé em Deus. As oportunidades, isso sim, eram escassas.

AFM – Boa alegoria, muito apropriada. Agora que se fala nisso, gostais de futebol?

JPII – Muito! Sempre apreciei muito. Tem momentos menos agradáveis, por exemplo quando um dirigente vosso, nem me lembra qual, se lembrou de me ir lambuzar o anel. Tirando esses fait-divers… Acho mesmo uma injustiça que o futebol seja o “Desporto Rei” e não o “Desporto Papa”, e afirmo-o com toda a propriedade como se vê claramente, e nesse aspecto o futebol português está na vanguarda.

AFM – Eis um ponto de vista extremamente interessante. Porque dizeis isso?

JPII – Comparem, então. É uma actividade de multidões, com romarias constantes, recheadas de messias e salvadores. Largas tradições e profunda implantação social. Movimenta rios de dinheiro e de atenção. É multilingue e plurirracial.

AFM - É realmente uma boa comparação entre o futebol e a religião.

JPII – Mas o melhor ainda está para vir. O futebol e a Igreja servem ambos para o mesmo, isto é, nada.

AFM – Mas, se bem percebemos, SS (Sua Santidade. Não confundir com a tropa de choque de Hitler) está a sugerir que a Igreja não tem razão de existir, que o seu papel social é irrelevante, ou nulo?

JPII – Eu, a sugerir? De maneira nenhuma. Estou a afirmar inequivocamente. A Igreja, assim como o futebol, não servem para nada. Mas tem um piadão enorme a energia, atenção e devoção que as pessoas dedicam às duas coisas. Digo-vos já, por vezes rio-me tanto a pensar nisso como a ver o elenco da Floribella a tentar representar. É de gritos.

AFM – Mas, não nos haveis dito que gostáveis de futebol?

JPII – Claro que disse e mantenho. É impossível a alguém não se deleitar com a beleza intrínseca dos gestos técnicos, a negação permanente das leis da física, as sublimes nuances tácticas… Estou a brincar, obviamente, e peço perdão por isso, mas não pude evitar. Gosto mesmo é de confusão, do conflito. Se houver violência nas bancadas, já dou o tempo por bem empregue, mas se for no relvado… Aí perco mesmo o controlo e praticamente deliro. Adoro “batatada”, como vocês dizem. Por mim tanto o Zebedeu [ver Portugal Hoje – Matar o Borrego de 5/8/2006], como o Paulinho Santos já tinham sido canonizados.

AFM – Mas essa postura não é um contra-senso? Afinal, SS (outra vez alertamos para a possível confusão) pregou a paz na Terra e o amor fraternal durante toda a vossa vida.

JPII – Tudo isso está muito certo e é muito bonito, mas assim que saí do escritório o trabalho ficou lá. Quando era mineiro não andava a abrir buracos aqui e além só porque me apetecia. Só para melhor compreenderem onde quero chegar, não foi por ter andado de vestido quase toda a vida que sou o Castelo-Branco.

AFM – Agradecemos desde já a disponibilidade e a amabilidade de SS (não tem mesmo nada a ver com as Schutz Staffel) em aceder a falar connosco, gostaríamos de vos colocar um última questão, que nos têm atormentado a nós e a todos os nosso leitores. SS (ver em cima) utilizava vestuário por baixo da batina e restantes vestes?

JPII – Eu é que vos agradeço e devo confessar que fiquei muito agradavelmente surpreendido com o vosso convite. Quanto à vossa questão, a resposta, no meu caso pessoal, é afirmativa. Usava uns calções apertadíssimos, que me cortavam a circulação, para me manter controlado. Acontecia, por vezes, eu pôr-me a pensar na Lúcia e andava nos corredores do Vaticano a parecer uma tenda de circo, o que era algo inconveniente. Eu fiquei marreco por andar inclinado para a frente a disfarçar, imaginem. O Bentinho XVI não sei se usa, mas imagino que não, porque ouvi dizer que “urina para os pés”, se me estão a perceber.

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