1/05/2007

Sócrates vs São Pedro

As enormes chuvadas caídas nos últimos meses de Outubro e Novembro motivaram uma reacção, mais ou menos generalizada, que pode perturbar os menos atentos pela sua aparente falta de bom senso. É por essa reacção que podemos verificar que a sociedade portuguesa tem inferido que as mortes, inundações, derrocadas, destruições, naturais prejuízos e demais notícias de abertura do Jornal Nacional foram, de uma maneira ou de outra, culpa do Governo de José Sócrates. Claro que as pessoas afectas ao PS reagem atónitas, incapazes de perceber que relação existe entre a governação de um país, por pior que essa seja, e os fenómenos naturais, incontroláveis por definição. Esquecem, essas pessoas, um dos pilares da cultura portuguesa, isto é, a sabedoria popular. Se atentassem na expressão Vox Populi Vox Dei perceberiam que anda Mouro na costa. Passamos a explicar.
De onde vem a chuva? Do céu. E quem gere a Secretaria Celestial da Dispersão de Recursos Hídricos (SCDRH)? São Pedro. O Moyle, ao entrevistar tão excelsa figura [a publicar num futuro relativamente próximo, ou talvez nem tanto], soube, em primeira-mão, que a culpa das cheias é de facto do Governo e de José Sócrates. Senão vejamos. Uma das principais acusações feitas ao actual Executivo é a de que tem governado contra os funcionários públicos, nomeadamente aqueles que não assinam o Acção Socialista. Partindo deste conhecimento a priori, que função pode ser mais pública que a de S. Pedro? Ao sentir o Governo a ir-lhe à bolsa (pois as túnicas não têm bolsos) e sendo um funcionário que gosta de se considerar exemplar, decidiu manifestar-se de uma forma diferente. Em vez de interromper funções (greves clássicas), levou a sua função a peito e tem feito greve de zelo. – Não podia deixar passar incólume esta machadada nos meus direitos adquiridos. É que aqui no céu tudo é multiplicado por mil e ao aumentar a idade de reforma para os 65 anos, aumentaram a minha para os 65 mil anos. Eh pá, eu tenho aspirações, não é por ser imortal que posso ser explorado, confidenciou angustiado. Queixei-me ao meu director – Deus – e ele disse-me apenas que não queria ter nada a ver com isso, senão qualquer dia era Ele a ter o Sócrates à perna e não estava para macacadas na idade d’Ele.
Conclui-se, portanto, que enquanto não mudar radicalmente a política do governo em relação à função pública, podemos esperar ainda mais chuvas, tempestades e pessoas a babarem-se enquanto bebem o café pela manhã. Como é mais fácil o Ministro da Economia cumprir limites de velocidade do que Sócrates mudar de opinião, bem nos podemos preparar para mais cacimba, mesmo alguma precipitação talvez elevada, ou seja, muita chuva, e às vezes da grossa.

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