5/30/2006

A «Luva» De Banho


Quando vamos tomar banho, é natural que levemos algumas coisas que consideramos básicas, ou essenciais, como a toalha, o sabão, o champô. Outros levam também o que não é necessário, algumas coisas que são supérfluas, como os sais de banho, amaciadores, condicionantes, etc., etc. Mas, há ainda pessoas que, roçando os limiares do perfeitamente incompreensível, levam utensílios que ninguém sabe para que servem e, uma dessas coisas é a “luva”. Para que serve uma luva sem dedos no banho? Só uma “luva”, sem o par, porquê e para quê? Porque não o par completo? Porque vem só uma? Ainda por cima não sei se podemos chamar àquilo luva, porque nem a forma da mão tem. É, basicamente, uma peúga de banho.
Esta problemática será ainda alvo dos maiores estudos no futuro. Não temos dúvidas de que o interesse psicossociológico desta matéria, a suas implicações filosófico-antropológicas, já excluindo os aspectos económicos, a vastidão das repercussões culturais e ao nível do desenvolvimento das mentalidades e das relações internacionais, poderá ser alvo de teses de doutoramento sobre a “luva” de banho, até que se perceba para que verdadeiramente serve. Talvez mesmo só daqui a várias gerações os segredos da “luva”sejam desvendados. Numa altura em que o Código Da Vinci é um best-seller, poderá estar prestes a ter os seus últimos dias de glória, pois os segredos da “luva” poderão tornar o Código num autêntico fait-divers insosso.
Umas das hipóteses que aventamos será, talvez, a sua utilização para uma lavagem mais consistente. Talvez. Mas vejamos. Se se está realmente sujo, para que serve uma luva de pano, que convém ter um certo grau de macieza? Nesse caso será mesmo mais aconselhável um esfregão de cozinha, ou, em casos de grandes aglomerados de sebo no corpo será necessário recorrer a uma escova de aço, mesmo uma navalha, vá, digamos, um canivete serve, e raspar as zonas mais afectadas. Agora a “luva”? Só se o sarro for de estimação e a “luva” servir para o acariciar e estimular a sua acumulação.
Outra hipótese que explique a utilização da “luva” será a eventual sensibilidade da derme e da epiderme. Mas, a não ser que se seja um trolha ou um lavrador (e esses não usam a “luva”), a pele das próprias mãos não será mais suave do que uma “luva” que, além do mais, sabe-se lá onde é que já andou, é feita de pano e ao fim do primeiro banho já parece ter mais de 20 anos de uso? E mesmo que a “luva” fosse mais suave, porquê só uma? A sua incompreensível função não seria mais eficaz se as duas mãos estivessem munidas deste objecto?
A questão, contudo, ainda se mantém. Mas porque será que alguém usa uma “luva” de banho?
Na minha opinião, a hipótese mais credível para explicar a utilização de uma “luva” de pano no banho, é a finalidade sexual, ou, se preferirem, auto-sexual (desculpem-me os púdicos, as freiras, os padres, os deputados do CDS/PP, ao Cristiano Ronaldo, os metrossexuais e outros que se limitam a usar a “luva” sem razão aparente mas simplesmente porque…sim). Mesmo esta hipótese vou tentar demonstrar que não é válida. Assim, no caso feminino, uma luva sem os dedos individualizados, convenhamos que não facilitará esse objectivo, colocando-o fora do alcance de boa parte das mulheres, pois… a “luva” não individualiza os dedos. Por isso, nem sequer coloco esta questão no caso das mulheres, ou pelo menos na maioria, imagino, delas. No caso masculino, o uso da “luva” já é mais aceitável, mas, mesmo assim, e voltando à sensibilidade, tomar banho todos os dias e usar a “luva” poderá ser um risco para a boa condição epidérmica, pois o tecido molhado não será assim tão suave. Talvez melhor fosse mesmo, então, experimentar umas luvas de látex.
Uma ideia mais prática talvez fosse uma maior eficácia na higienização do entre-nalguedo, ou seja do rego (em linguagem não técnica), propriamente dito. Tenho as minhas razões, algo pessoais, para questionar a eficácia do papel oftalmológico (sim, leram bem, o papel higiénico não serve para limpar o “olho”?). Contudo, reservo-me o direito de duvidar, mesmo nesta situação, da eficácia higiénica da “luva”. Se for demasiado suave não esfrega, demasiado rugosa arranha, e torna-se incomportável comprar uma por banho. Senão vejamos, depois de lavar o “rego” com uma “luva” eu, pessoalmente, deitá-la-ia imediatamente fora, tendo o cuidado de não passar, inadvertidamente, por mais nenhuma parte do corpo. Vejam o nojo que seria.
Se nem a higiene, o conforto ou mesmo a sexualidade explicam satisfatoriamente o uso da “luva”, temo que estejamos perante um insondável mistério e que as verdades sejam apenas reveladas aos nossos filhos, ou mesmo netos nas gerações vindouras. Eu, na flor da idade, estou agora preparado para lidar com este grande Mistério da Humanidade. Vocês estarão?