3/19/2011

Golf(p)e de Estado

Já toda a gente está ao corrente da elevadíssima qualidade dos nossos políticos. Até aqui, nada de novo. No entanto, não deixa de surpreender a criatividade e imaginação com que esses mesmos políticos se desenrascam quando têm que justificar as antológicas ideias de ciência política e de arte governativa que depois de regularmente evacuadas nos atiram para cima.
Agora foi o génio que decidiu a tributação do Golfe com taxa de IVA reduzida, ou seja, 6%. Faz sentido tributar uma actividade desportiva em apenas 6% quando muitos produtos alimentares são tributados a 23%. É um país de gordos e, caso não saibam, a esperança média de vida está, pela primeira vez desde o cheiro a Revolução Industrial - sim, porque em Portugal não se pode falar em Revolução Industrial mas sim em vapores da mesma, já que Industrial e Portugal são termos mutuamente exclusivos, embora rimantes -, em movimento descendente.
Pode-se argumentar, embora pareça ao Moyle que tal fosse um mero exercício de demagogia e maus-fígados, que se o objectivo é melhorar o nível físico e de saúde do país, faria mais sentido tributar menos onerosamente os ginásios. Ou ainda, se quisermos ser mesmo mesquinhos reverter medidas como a extinção do Desporto Escolar. Estas duas possibilidades sustentar-se-iam, de forma naturalmente sofística, com a argumentação de que, desta forma, se obteriam mais e melhores resultados em termos de saúde pública porque tanto os ginásios como o Desporto Escolar abrangeriam uma maior franja demográfica.
Mas este tipo de conversa, ou pseudo-argumentação, não nos deixemos comer por lorpas, é tão capciosa como considerarmos uma boa ideia vender Indulgências em Wittenberg, ou esperar inteligência do Pedro Marques Lopes.
Estas possibilidades argumentativas são falaciosas e mal-intencionadas porquê? São muito fáceis de determinar em termos de origem ideológica: são atoardas de Direita. O Governo actual é, muito clara e obviamente, Socialista, de esquerda, de uma esquerda pura e humanista, preocupada com valores e com o Homem.

[advérbio de modo, aqui, só para começar a frase] que as motivações de um governo verdadeiramente de esquerda, filiado na matriz Fraternidade, herdada dos revolucionários franceses, são mais abrangentes que as da Direita, baseadas no mote Liberdade, nascido desse mesmo episódio revoulcionário matricial, mas que beneficia unicamente uma burguesia pretensiosa, opressiva e vampírica que vive apenas de e para despudoradamente sugar o sangue da classe proletária.
Quem, no nosso país, mais precisa de emagrecer? São esses mesmos que todos nós conhecemos, os fat cats, administradores, gestores, antigos ministros e secretários de Estado, tornados CEO's, BBC's, CFC's e LCD's, que gordurosamente se enchem como nababos sobrevalorizados em funções de utilidade duvidosa. São estes gajos todos que engordam perigosamente, até porque todos os outros não têm assim tanto para comer como isso.
Agora, se este pequeno grupo de pançudos tem engordado, embora à custa de todos os outros, é natural que seja este grupo o mais necessitado de exercício físico. Logo, nada como incentivá-los a tal prática baixando os custos do desporto preferencial desta maralha, isto é, o golfe. Portanto, em vez de demagogias, típicas de Direita, não há como adaptar as soluções aos problemas, sem desperdícios, sem populismos, com eficácia e assertividade, o que é típico do nosso governo de Esquerda.
Há que proteger estas elites que, no fundo, são responsáveis pela belíssimo e felicíssimo momento em que nos encontramos enquanto país, cultura, sociedade e economia. Ninguém se pode arriscar, neste momento, a que esta gente morra toda e deixe incompleta a obra magnífica que conseguiram em transformar este país num país rico, moderno, que serve de modelo e exemplo a todo o mundo desenvolvido, em vias de desenvolvimento, subdesenvolvido e à Madeira.
Já imaginaram se tudo o que é gestor e administrador público, ex-ministros e ex-secretários de Estado, quadros de administração intermédia de nomeação política, morressem agora de doenças relacionadas com excesso gordura? O que seria do nosso país?
Além do mais, o golfe é uma indústria em expansão que dizem valer 500 milhões de euros para a economia nacional, e contra isso o Desporto Escolar não tem nada a dizer porque só acrescenta despesa e nenhum ganho. O que ganha um país em evitar que os putos que passam o dia a enfardar bollycaos e gomas pratiquem desporto? Mas com o golfe ganha 500 milhões! Temos que ter atenção a estas minudências.


Se repararem bem, o PSD não é quem mais reclama das medidas do PS. Resulta bastante óbvio que, tal como metade dos manifestantes em Lisboa no passado dia 12 de Março de 2011, o líder do PSD está, neste preciso momento, em estágio. Tem a sorte de estar a aprender com um dos melhores. Portanto, e na medida em que esse estágio está em vias de terminar, não lhe convém protestar ou reclamar muito com quem lhe está a ensinar os ossos do ofício e a abrir caminho para mais do mesmo.
Os partidos mais pequenos falam alto, protestam, indignam-se, como se calhar a maior parte da população deveria fazer, mas é só porque já sabem que não governarão. Caso tivessem a mínima concepção de que o poderiam fazer, os protestos seriam menos veementes, mais condescendentes e ligeiramente menores em sonoridade e indignação.
Pelo menos para já, este é um jogo que tem sido jogado a dois, o actual golfista tem preparado as tacadas do próximo. Veremos quanto tempo dura e quando é que o Zé Povinho exige dar também umas tacadas de IVA reduzido.
O Moyle não acha grande piada ao Golfe. É um desporto violento, rápido e extremamente agressivo fisicamente, mas para ver o Zé Povinho à tacada até assinaria a SPORTTV Golfe.

6 comentários:

Teté disse...

Portugal rima com industrial, mas só para inglês ver?! :)))

Mas também estava disposta a ver o povo a treinar um golfe desses! Ou a organizar uma colecta (o FB ajuda!), para políticos de tão alto gabarito (que poderiam levar consigo essas elites) fazerem uma grande viagem à Conchinchina. Só com bilhete de ida e a obrigatoriedade de ficarem por lá pelo menos 10 anos... :)

ipsis verbis disse...

Era uma tacada bem dada na cabeça de todos os políticos e esperar melhores - ok, não vou tão longe - outros resultados.

Moyle disse...

Teté,

e o os conchinchineses que já sofreram tanto... para o Gobi, ou Nazca, ou assim, onde não mora ninguém. Lá podem abrir os buracos de golfe que quiserem :)

Moyle disse...

ipsis,

o problema é que estes gajos têm todos um grande handicap (nunca pensei que algum dia conseguisse fazer esta piada :D)

ipsis verbis disse...

Moyle,

AHAHA! Muito boa... you're in The Zone now :P

Moyle disse...

ipsis,

oops! :D