5/12/2010

No Name Hóstias

Deixem-me que vos diga uma coisinha. É certo que vivemos num Estado de direito democrático, moderno e, muito importantemente, laico. Não creio que a visita de Bento, jogador número XVI do Pescadores de Almas Futebol Clube, venha pôr em causa a laicidade tão arduamente conquistada - pela abençoada lambada arreada na padralhice - na I República. Na realidade, parece-me que não corremos o risco da confessionalização do Estado por o presidente da República receber o Führer do Vaticano como chefe de Estado e crente.

Nesta recepção, a cena que me impressionou verdadeiramente foi perceber que Cavaco, além de crente, é um gajo carregadinho de fé. Fé, mas não uma fé qualquer. Aquilo era mesmo fé, mas da boa. Não era fé dos chineses, nem da feira do Relógio. Era FÉ! De outra maneira não se compreende que ele tenha dado os netinhos a beijar ao patrão dos que recebem o senhor de joelhos.

Tirado este apontamento mais sério do peito, vamos às parvoíces.

Com tanta concentração de entusiasmo nos dias que correm, seja pelo campeonato das papoilas e respectiva voltinha de autocarro pelas avenidas e rotundas lisboetas, seja pelo Mundial e respectivas bandeirinhas que se adivinham por todo o lado, o Moyle esperou, muito honestamente, uma recepção a Bento XVI de tom muito mais futebolístico.

Digam-me muito honestamente, não estavam à espera de ver agitar cachecóis juntamente com aquelas bandeirinhas com a tromb…, fácies papal? É que toda a situação e o timing da visita estavam mesmo a anunciar e a pedi-las. Teria sido extraordinário dividir os fiéis em claques católicas -de um lado os Forza Giallobianca e do outro a Torcida Urbi et Orbi - a trocarem, ao despique, cânticos de incentivo ao pontifex maximus dos que servem o Senhor, de joelhos.

A palermice galopante do Moyle já imaginou:

«Allez, Luz do Mundo, Allez/ Allez, Luz do Mundo, Allez», com a tradicional música dos Pet Shop Boys, “Go West”.

Ou ainda:

«Viva o Papa/ Fiéis, Viva o Papa

Viva o Papa/ Fiéis, Viva o Papa», com a música do clássico “Guantanamera”

E ainda um clássico dos nossos estádios e brevemente basílicas:

«Uma Cúria cristianíssima/ um’eucaristia fantástica

és tu a nossa Fé/ Filho de Deus allez

Tod’a ecúmen’a rezar/ Tod’a ecúmen’a rezar

filho de Deus allez, lá lá lá lá/ filho de Deus allez, lá lá lá lá

Eu só sei, que vim ver o Papa!

No entanto, o clima de crispação e a falta de fair pray [notem o nível deste trocadilho], acabariam por chegar também a estas claques, apesar de darem todas para o mesmo lado. Naturalmente, verificar-se-iam o arremesso de bombas de água benta e tochas de incenso. Em caso de as coisas chegarem a vias de facto, a intervenção dos stewards/Cavaleiros da Ordem de Cristo para restabelecer a paz e o amor fraterno deveria ser suficiente.

2 comentários:

Teté disse...

Por acaso mal tenho dado pela presença do Papa. Primeiro por causa da festa benfiquista, depois pela festa familiar e, finalmente, porque se dou com o Papa na TV, apago-a.

Não sou católica e não tenho nada contra os crentes, mas a actual Igreja (e seu leader mor) parece-me tão obsoleta e contrária àquilo que prega, que só me admira ainda existirem tantos católicos. O Papa calça Prada e deve achar normal... :/

Moyle disse...

Teté,

não é o diabo que veste Prada? bem, deve estar tudo dito :)