4/12/2010

Controlo de Proximidade

A vida doméstica tem um conjunto de particularidades desconcertantes. Das caliginosas profundezas do raciocínio emerge uma questão tão improvável quanto estarrecedora.
Tomemos o exemplo do controlo remoto. Este, normalmente pequeno, objecto foi concebido com a função de simplificar a vida doméstica, permitindo desempenhar certas funções à distância e com um nível de esforço mínimo, negligenciável até no conjunto dos nossos afazeres diários. Na prática, um controlo remoto, ou comando como normalmente lhe chamamos, desempenha a função que um escravo desempenharia, embora este com um muito maior custo em termos de recursos financeiros e de aprovação social, vá-se lá perceber porquê, no entanto.
O objectivo de um comando de televisão é mudar à distância o canal que se está a ver, ou aumentar o volume, ou tanto faz, evitando a nossa deslocação até ao aparelho televisivo propriamente dito. Ganha-se em conforto e em preguiça que, mãe de todos os vícios, deve ser respeitada como progenitora que é. A função e lógica inerentes ao funcionamento deste aparelho são, portanto, extremamente simples, ou seja, obter um resultado sem input de esforço. E é aqui, precisamente que reside a dúvida que me assalta as paradoxalmente cansadas e inactivas sinapses. Por que carga de água se põe o comando ao pé da televisão? Se temos que nos levantar para ir buscar o comando junto da tv, isso não anula o propósito da existência do comando, logo à partida? Se arrumar o comando junto da tv parece óbvio pela associação lógica de ideias - o comando da tv está junto... da tv, logicamente - na realidade é palerma porque se temos que ir ao pé da tv buscar o comando podemos mudar de canais, ajustar o volume, ou tanto faz.

6 comentários:

Carlos Paiva disse...

Se calhar por as gajas terem o parque de diversões mesmo juntinho ao cano de esgoto, e haver tanta gente seguidora da lógica linear, é que...

Moyle disse...

Shadow,

eu a pensar que era por o iogurte não ter espinhas mas és tão assertivo que nem me sinto confortável numa qualquer réplica.

Clara Umbra disse...

Românicos? Góticos? Românicos? Góticos? Românicos? Góticos? Românicos? Góticos? Românicos? Góticos? Românicos? Góticos? Românicos? Góticos? Românicos? Góticos?

(esta é a vooooz da tua cooonsciêêêência...)

: )

Teté disse...

Há invenções assim, que em vez de facilitar complicam...

Nem é questão de o guardar junto à televisão ou ao sofá! Agora as potenciais discussões que eles geram, com gajos em zip-zap todo o tempo (já que não têm de levantar o rabo, né, que senão o caso mudava de figura...), sem deixar ver um programa do princípio ao fim, pois, deve dar para um tratado sobre divórcios-e-suas-causas-nunca-referidas-em-tribunal-mas-que-irritaram-a-parceira-sobejamente!

Pior ainda, há alguns que na sua casa são autênticos ditadores com um na mão: ou todos (visitas incluídas) vêm o que ele quer (e caladinhos), ou não há TV para ninguém... :)))

Moyle disse...

Clara,

quer-se dizer, por motivos puramente materialistas eu devia preferir o gótico porque as notas de 20€ compram mais maços de John Player Special que as de 10€, no entanto, considerando a morte do materialismo nestes tempos pós-modernistas de eventual pendor neo-positivista, mantenho a minha hesitação (é por isso e pelo facto de apesar da música gótica ser muito boa em detesto aqueles folhinhos que eles vestem e aquelas cruzes ao pescoço e etc.)

(estranho, pela minha experiência de vida vim a crer que a minha consciência era muda. afinal não :))

Moyle disse...

Teté,

é como diz o anúncio: "o comando é Meo" :)

(bom título para um tratado sobre divórcios :))