10/06/2009

Faena Budista

Agora que passou todo este tempo, se dissipou o fumo e assentou a poeira, podemos observar de maneira mais clara e objectiva o episódio tauromáquico de Manuel Pinho na Assembleia da República. Apesar de não ser de descartar a possibilidade de fazer umas piadas sobre a matéria, como, por exemplo, a bancada do PCP ter pegado de caras cada investida do governo, ou o Bernardino Soares ser o líder do Grupo Amador de Forcados do Politburo, a verdade é que todo este caso não é motivo para brincadeiras, muito pelo contrário.
O Moyle já se insurgiu mais que uma vez contra o fundamentalismo religioso que se vive neste país da Europa à beira mal plantado. A supremacia catolicista, apesar da suposta lei de liberdade religiosa e de separação entre Igreja e Estado, tem permitido vigorar um estado de coisas que nos deve preocupar por violar os nossos direitos quanto à opção religiosa, forçando-nos a aceitar, subliminarmente, uma escolha que deveria ser feita por nós.


Manuel Pinho foi demitido por assumir em público a sua opção por uma das religiões mais antigas da Humanidade, o budismo – não vamos discutir o facto de o budismo ser mais uma filosofia que uma crença religiosa. Há já muito tempo que o ex-ministro da Economia era acusado de ligeireza nos seus comentários e mesmo de um certo carácter simplório nas suas análises. Não podemos escamotear alguma verdade nesses, de outro modo, remoques, mas devemos lembrar que os budistas, fruto da meditação e de uma compreensão mais profunda sobre o tempo e mesmo sobre a natureza humana, tendem a relativizar aquilo que parece gravoso e definitivo. Os comentários de Pinho eram, efectivamente, fruto da sua sabedoria e da sua insistência em manter o optimismo perante questões apresentadas como armagedónicas mas que, como se começa a ver, nunca são definitivas.


Neste momento as imagens que vos trazemos começarão já a fazer algum sentido nas vossas cabeças. Na realidade, Manuel Pinho limitava-se a dizer à bancada comunista, a Bernardino Soares mais precisamente, para ter uma atitude mais descontraída, mais calma, mais relativista, no concernente aos assuntos que estavam em discussão usando um gesto que remetia, claramente, para o seu mentor espiritual e uma das personalidades mais consensuais do planeta, o Dalai Lama. E é um bom conselho se pensarmos bem no assunto, tendo em conta as estatísticas nacionais da hipertensão e das complicações cardíacas e doenças cardiovasculares, etc., etc., etc.
Tudo bem que um membro do governo não deve, devido precisamente à liberdade religiosa, andar a anunciar a sua opção mas, de qualquer modo, não pareceu ao Moyle tanto uma ingerência proselitista de Pinho mas antes um valioso conselho a um colega político mais novo, considerando certamente a sua saúde e bem-estar.
Pobre Pinho, injustiçado, foi demitido por respeitar a vida e se preocupar com a saúde de outros seres humanos, mesmo que comunistas – o que mostra bem o desprendimento dos budistas em relação às coisas do mundo. É a hipocrisia cristã a manifestar-se, alertando-nos, ao mesmo tempo, para a necessidade de termos cuidado pois qualquer dia põe-nos todos de joelhos a tomar “o corpo do Senhor” [agora leiam sem as aspas].

10 comentários:

Teté disse...

Como é que é?!

Ná, cá para mim estás a complicar demais o que passa na cabeça de um asno, com pretensões a ser boi...

Mas foi uma boa tentativa! :)))

Moyle disse...

Teté,

bem... já que o pões nesses termos :D

ipsis verbis disse...

Não consigo deixar de ver no Manuel Pinho um Bocas e no Dalai Lama um Bambi... (o primeiro ainda tem muito "wax on-wax off" que aprender com o segundo)

Moyle disse...

ipsis,

Bocas, Bambi e, para terminar, uma metáfora do Karate Kid...

muito bom :D

ipsis verbis disse...

Moyle,

Muito bom é o teu texto. There; we have now scratched each other's back :D

Moyle disse...

ipsis,

e está muito melhor agora. devia ser da etiqueta que faz comichão :)

ipsis verbis disse...

Moyle,

Ai as etiquetas... essas malandras! :D

Moyle disse...

ipsis,

é a Bobone que faz falta :D

ipsis verbis disse...

Moyle,

AHAHAHAH, lindo! :D

Moyle disse...

ipsis,

a minha modéstia mal o permite mas obrigado. sempre achei que não era mal jeitoso de todo :D