4/30/2012

Sehnsucht

Parece que corre para aí uma moda de deixar de comer para sobreviver apenas com os raios do sol. Parece-vos estranho? Pois parece. E parece-vos estranho porquê? Porque, efectivamente, é estranho. Mas, apesar de ser estranho, e se calhar mesmo por ser estranho, este facto é real e, à conta disso, uma totó helvética bateu a bota depois de deixar de comer.
Esta moda foi inspirada  num guru indiano que deixou de comer e sobrevive apenas com raios solares, o que faz sentido. O que comer não abundará numa Índia com mil milhões de habitantes, mas sol há com fartura. Mas estas matérias, apesar de ainda não haver notícias de idiotas por cá a alinhar com tal moda (não por falta de idiotas, note-se), também dizem respeito a Portugal.
Ora, o que há de comum entre Portugal e a Índia? A princípio, poderíamos pensar que era o facto de há uns quinhentos anos os portugueses terem arrasado à base de canhão umas poucas de cidades do subcontinente. Mas não é isso. 
Na realidade, os governantes portugueses descobriram o tal guru da Índia há 70 anos que não come e não bebe e, tendo em consideração que portugueses e indianos partilham de tantos séculos de História (nem toda tão deprimente como referido no parágrafo anterior), acharam que estava na altura de pôr em prática uma nova  medida de aproximação civilizacional. Isto significa, naturalmente, que se os indianos não precisam de comer, nem de beber, os portugueses também não. Se há indianos que vivem só com os raios de sol, os portugueses também o hão-de conseguir. 
É que a Índia é uma potência emergente e pode estar nessa poupança nos aspectos supérfluos, como são os luxos de comer e beber, a fonte da resolução das nossas encrenca financeiras. Além do mais, Portugal é um país bastante solarengo, pelo que nutrição não faltará aos nacionais.
Daí o gigantesco esforço para emagrecer a República, infame e morbidamente obesa, cortando em tudo o que seja despesa frívola, como a Educação, a Saúde e a Justiça. Além disso, a brutal carga fiscal, de que se anuncia ainda mais um aumento, sobre bens de consumo, mais que uma tentativa espaventosa de alargar réditos fiscais à custa do nível de vida dos cidadãos, serve o propósito de estimular a poupança desincentivando a despesa de cada em futilidades como o comer e o beber.
Talvez, apesar dos meritórios e altruístas esforços de quem nós pusemos a governar-nos, a coisa ainda não esteja suficientemente bem afinada. De facto, contar com o sol para nos alimentar nos dias que correm não é grande ideia. Parece que houve orações a pedir chuva em demasia há uns tempos e a coisa agora não está fácil. Por outro lado, outra dificuldade tem aflorado na distribuição do emagrecimento por toda a República. Há muita camada adiposa ainda a eliminar. Por exemplo, nem todos são abrangidos pela  mesma dieta, havendo quem abuse às claras de umas guloseimas que são altamente calóricas e contêm elevadíssimos teores de excepções à austeridade (o nome comercial destas guloseimas o Moyle admite não conhecer).
Parece ao Moyle que, embora algo prejudicados nas suas magníficas intenções de ajudarem os portugueses a deixarem de comer e de beber, os nossos governantes têm que ser capazes de ultrapassar os azares no âmbito do incontrolável (como os fenómenos meteorológicos), sendo mais assertivos na tomada de medidas de emagrecimento público..

4 comentários:

Vic disse...

Agora vê lá a fominha, com o tempo da trêta que tem feito por estes dias, Moyle.

(este governo só quer o nosso bem, não sejas maldoso)

Teté disse...

Ora, a morte dessa totó suiça deve dar boas ideias aos atuais governantes, nomeadamente passar o documentário do indiano nos canais televisivos de maior audiência em horário nobre. Depois, bastava ver uma série de meninas (e não só) a seguirem essa "milagrosa" dieta, na esperança de caberem no biquini do ano passado... ;)

OK, pode-se dizer que o governo ainda não tem voz na programação das televisões pública e privadas. Mas puxando uns cordelinhos, acabam por chegar lá à mesma...:P

Moyle disse...

Vic,

pobre Governo. até a meteorologia está contra eles. primeiro rezaram pela chuva. agora, a cada saraivada de seca extrema, começam a pensar em rezar pelo sol.

nunca duvidei da bondade das preocupações deste governo, o que não me parece é que tal bondade seja efectivamente para todos (nem sequer para a maioria).

Moyle disse...

Teté,

Sim, tens muita razão. Ainda bem que os governos em Portugal não têm nenhuma palavra a dizer nos meios de comunicação social...